Viver e traduzir – extratos

Laura Wittner
Tradução de Maria Cecilia Brandi e Paloma Vidal

Anne Carson: dizer as coisas não tão bem

Eu gosto do espaço entre as línguas, porque é um lugar de erro ou de equívoco, de dizer as coisas não tão bem quanto se gostaria ou de não conseguir dizê-las de jeito nenhum. E isso é útil para escrever, acho eu, pois é sempre bom se desequilibrar, ser removida da complacência com que você normalmente se põe a observar o mundo e dizer o que observou. A tradução produz esse desalojamento continuamente; então, respeito a situação, porém não acho que gosto dela. É uma margem útil contra a qual se pôr.

Paula Abramo: Platão, que preguiça

Cada vez que dizem que uma tradução literária é “impecável” como o melhor elogio imaginável, meu coração morre um pouquinho.

A tradução literária é uma tarefa artística. E quando diriam de um quadro ou de um poema que “é impecável”? Pequemos, já que a arte é pecado e decisões. E, como acontece com a arte, há traduções desleixadas, há traduções admiráveis, há diversos graus de domínio e uso da técnica, da crítica, da criatividade, arsenais linguísticos de diversas dimensões e qualidades, diversos graus de compromisso e responsabilidade diante do trabalho, mas não existe “a melhor tradução possível”, porque também não existe um original puro e único para todos em todos os tempos.

Não estamos enfiados com nossos laptops e dicionários na caverna de Platão (Platão, que preguiça).

Circe Maia: por que resolvi traduzir?

Por que eu traduzo, por que resolvi traduzir? É difícil saber. Por que razão traduzir poesia? Não por uma razão, mas por uma esperança. Pela esperança de que a poesia possa gerar poesia também em outra língua. E não é isso o que queremos?


Laura Wittner nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 1967. É tradutora e poeta premiada. Traduziu para o espanhol obras de Claire-Louise Bennett, Anne Tyler, Leonard Cohen, James Schuyler, Katherine Mansfield, entre outros nomes. É autora de livros de poemas e de literatura infantil. Viver e traduzir, publicado originalmente em 2021, é seu primeiro livro de ensaios e recebeu o Prêmio Nacional da Argentina, na categoria ensaios artísticos.

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