Um poema de Claudia Rankine

Tradução de Jade Medeiros e Larissa Bontempi

As each syllable leaves these lips as touch, feel how onerous

—always

a draft touching, its embrace the dream awake

chilling distance


and the body feeling it first as desire—

the just sound of lovers in a sureness of love without

the love, oh, yearned-for thing, never without—


The same chill already resembling how the ocean feels

though one flies over

gray voice of the open mouth,

each wave blown apart. So sullen each attempt—


until she who doesn’t want, but having need, tries


to land somewhere without giving in;giving no expression

and haunted at center, haunted at heart, without

forgiveness in this atmosphere of—


Think of me somewhere dumb, open corridor into—


whispering, okay, okay.

and afraid. alone

and not. Afraid

with no more room. Falling

into nowhere else—

A cada sílaba que abandona como toque estes lábios, sinta como é árduo

— sempre

uma brisa roçando, seu abraço o sonho acordado

distância arrepiante


e o corpo a sentindo primeiro como desejo —

o mero som dos amantes em uma certeza do amor sem

o amor, ah, coisa tão desejada, nunca sem —


O mesmo calafrio já se assemelha à sensação do oceano

embora aquela sobrevoe

a voz cinza da boca aberta

de cada onda explodida. Tão sombria cada tentativa —


até que ela, sem querer, mas precisando, tenta


pousar em algum lugar sem se render; inexpressiva

e apreensiva no centro, apreensiva no coração, sem

perdão neste clima de —


Pense em mim em algum lugar absurdo, num corredor aberto para —


sussurrando, tudo bem, tudo bem

e temerosa, sozinha

e não. Temerosa

sem nenhum espaço. Caindo

em outro lugar —

Poema da seção “Extent and roof of” (“Extensão e raiz de”) do livro The End of the Alphabet (O fim do alfabeto), publicado em 1998, nos Estados Unidos. Claudia Rankine nasceu na Jamaica, em 1963, e vive em Nova York; é poeta, dramaturga e ensaísta.


Larissa Bontempi é mestra em Estudos da Tradução, tradutora e revisora de textos. Atua como tradutora nos sites da Revista Amazonas e do coletivo Quilombo Cibernético. Seus estudos são voltados para textos literários e de humanidades com foco em raça e gênero. Traduziu na Bazar do Tempo Febre de Carnaval, de Yuliana Ortiz Ruano, e textos de Cenas de um pensamento incômodo, de Rita Segato.

Jade Medeiros é poeta, tradutora e preparadora de textos. Bacharel em História da Arte pela UERJ e especialista em Tradução de Inglês pela Estácio de Sá. Tem poemas e contos publicados em revistas literárias e coletâneas. Em 2022, ficou em segundo lugar no Prêmio Conceição Evaristo de Literatura da Mulher Negra na categoria Poesia. Traduziu na Bazar do Tempo Pão tirado de pedra (ensaios) e Nenhuma língua é neutra (poesia), de Dionne Brand, com Lubi Prates, e poemas de Pat Parker para a antologia Você lembrará seus nomes.

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