Dia Internacional da Mulher: 50 anos e muitas lutas

Cristina Fibe

 

O Dia Internacional da Mulher completa 50 anos sem chance de descanso.

 

Embora as lutas globais pelas pautas feministas já contem mais de um século, tendo sido oficializadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, talvez estejamos num dos momentos mais delicados e tensos dessa história.

 

 

 

Chegamos a 8 de março de 2025 assistindo ao avanço da extrema direita no mundo e, com ela, a retrocessos significativos em conquistas dadas como consolidadas.

 

Nos Estados Unidos, país que escolheu para a presidência um homem condenado por abuso sexual, as mulheres já perderam o direito ao aborto, legalizado em 1973. Ao assumir o seu segundo mandato, o republicano Donald Trump revogou políticas de equidade de gênero e raça e adotou um discurso abertamente transfóbico.

 

 

O perigo é que palavras, vindas de um presidente, se tornam políticas de Estado e instruções para grandes conglomerados — e diretrizes discriminatórias matam. 

 

No Brasil, o avanço do fundamentalismo religioso e do conservadorismo já é uma ameaça concreta e bastante palpável. Para ficar num exemplo, o direito ao aborto previsto em lei — quando há crime sexual, risco de morte da mãe ou anencefalia do feto — está cada vez mais longe de meninas e mulheres, com médicos e hospitais inteiros recusando-se a realizar o procedimento.

 

Não basta um governo progressista assumir a administração federal, o retrocesso é uma espécie de vírus pandêmico ainda sem cura. Uma reação violenta e estrutural às conquistas dos movimentos feministas, que toma forma na eleição de homens misóginos para cargos de poder, nas tradwives de TikTok, nos exércitos masculinistas armados para atacar on-line.

 

O tom é pessimista, eu sei. Mas a intenção é ser um reforço: não podemos desacelerar, muito menos parar. Temos um longo caminho pela frente, e andaremos muito mais rápido se estivermos unidas em torno das diferentes pautas que nos afligem. Sem discriminação.

 


Cristina Fibe é jornalista, roteirista e escritora especializada na cobertura de violência contra a mulher. No jornal O Globo, atuou para revelar os estupros cometidos pelo então celebrado médium João Teixeira de Faria, em 2018, e aprofundou as investigações sobre o caso para o livro “João de Deus — O abuso da fé” (Globo Livros). É colunista do UOL.

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