
"Não é polícia. É política. A polícia é um meio de se chegar aonde se quer na política."
O que esse livro de Cecília Olliveira, craque do melhor jornalismo investigativo, faz é uma espécie de aula de anatomia: disseca a cidade e revela a podridão que azeda o mate, bota água no chope, desafina o samba, mostra os dentes do malandro maneiro e apaga o sol. Como nasce um miliciano mostra que poder e crime são siameses no balneário - faces da mesma moeda - e lança o alerta: o Rio sempre foi, para o bem e para o mal, um laboratório de experiências para o Brasil. O que nos aguarda?

Luiz Antonio Simas
A realidade, apurada por Cecília Olliveira, supera qualquer ficção inspirada em fatos reais. A milícia na década de 2020 é mais violenta, mais infiltrada, mais ameaçadora do que poderíamos supor; política e crime se confundem na definição mais clássica de um narcoestado. Cecília oferece mais do que o título propõe e mostra como traficantes e milicianos, que atuavam em esferas independentes, se fundiram, criando um verdadeiro ovo da serpente. Um livro sensacional.

Rodrigo Pimentel, capitão veterano do BOPE, autor de "Tropa de Elite 1 e 2"
Cecília Olliveira é jornalista. E das ótimas. Isso explica a qualidade do texto de Como nasce um miliciano. Ela é também pesquisadora aplicada e persistente. Aqui está o resultado de duas décadas de intenso trabalho de quem veio de fora; não tirou os olhos do Rio de Janeiro; insistiu em compreendê-lo. O livro é surpresa para iniciantes; desencanto
para iniciados. A partir da história particular do cabo Bené, a autora traça o panorama geral do que se tornou o Grande Rio – e espreita o Brasil. Obrigatório.

Flávia Oliveira, jornalista
A história de Bené, o miliciano, é um diagnóstico de tudo o que deixamos de fazer, como sociedade, e criamos com isso o terreno fértil para um crime que ainda hoje é socialmente aceitável, graças a uma narrativa que envolve torturadores, assassinos e seus apoiadores numa aura de heroísmo justiceiro. Um livro fundamental no momento em que a miliciarização do país avança de maneira assustadora, com o apoio da estrutura política.

Sônia Bridi, jornalista
Este livro é a comovente recusa de uma jornalista excepcional à ignorância e à apatia, ao autoengano e ao imobilismo. É um não veemente aos clichês, que nos vendem a ideia de que o povo fluminense vive – vivemos – num cartão postal e que o jeito é deixar a vida nos levar, aos trancos e barrancos, cada qual cuidando de si, porque não há nada mesmo a fazer. A obra de Cecília é um manifesto inconformista: por um lado, desconstitui a crença pueril de que já se sabe tudo – esse autoengano que conduz à ilusão de que o diagnóstico está pronto, de que só falta agir.

Luiz Eduardo Soares





Bazar do Tempo